AS MENTIRAS QUE OS GÉGRAFOS CONTAM PARA AS CRIANÇAS


Por Fernando R. F. de Lima.



Analisando o livro didático da minha filha, utilizado no colégio em que ela estuda, e sobretudo as questões colocadas para a avaliação de geografia, fiquei realmente assustando com o grau das mentiras contadas para as crianças na escola. Vou começar pelo princípio, que são os critérios de regionalização do mundo, em especial do continente americano.
Segundo os autores do livro, as Américas podem ser divididas segundo o critério histórico-cultural (anglo saxã e latina), econômico (desenvolvida, subdesenvolvida), segundo o sistema econômico (capitalista e socialista) ou ainda pela história da colonização (de povoamento ou de exploração). Obviamente, tratam-se de divisões “consagradas” no passado, mas que pouco tem a ver com a realidade atual.
O critério de desenvolvimento adotado, por exemplo, é simplesmente a repetição das falácias repetidas há muitos anos. Não ocorre uma busca de uma classificação que considere algum indicador de referência como por exemplo o Índice de Desenvolvimento Humano, que colocaria no rol de países desenvolvidos os sul-americanos Chile e Argentina, porção sul e sudeste do Brasil além de vários países da América Central, como Costa Rica, Porto Rico e outros menores.
Segundo o sistema econômico, o livro e os professores enfatizam que há países capitalistas exportadores de produtos industrializados, como Canadá e EUA, subdesenvolvidos industrializados, mas exportadores de produtos primários, como Brasil, Argentina e México, e os demais seriam subdesenvolvidos exportadores de produtos primários. Ou seja, adota-se uma divisão simplista, como se a pauta de exportação fosse determinante para que um país torne-se desenvolvido ou subdesenvolvido. Tampouco é apontando o fato de que os EUA e o Canadá são grandes exportadores de produtos primários, e que Cuba, apesar do que os autores dizem, não exporta praticamente nada, sendo dependente de esmola externa para sobreviver.
O livro também dá destaque para a diferença entre colônias de exploração e de povoamento. Oras, só um ingênuo acreditaria que os EUA se desenvolveram por causa do enfoque em seu mercado interno. Os EUA só se tornaram viáveis economicamente quando as platations de algodão, tabaco e a exportação de madeira se iniciou. E a implantação da atividade canavieira no Brasil foi uma atividade de povoamento incentivada pela metrópole, cujos povoadores até hoje nos brindam com sobrenomes Ou seja a exploração comercial de cultivos é que levou povoamento às colônias americanas.
O que levou a América anglo-saxã ao desenvolvimento, deixando para traz os latinos, é o fato de que eles adotaram o capitalismo tão logo este surgiu, enquanto nós e nossos hermanos continuamos sob a égide do mercantilismo até recentemente.
Outra grande mentira contada diz respeito aos pólos de poder: fala-se que no mundo há atualmente três grandes pólos de poder: os EUA, com influência sobre a América; a Alemanha e França, com poder sobre a Europa e África e por fim o Japão, dominando o leste da Ásia. Esta é uma tese apresentada por Fraçois Chesnais por volta do ano de 1996, que possivelmente já estava superada naquela época, mas atualmente encontra-se absurdamente defasada.
Basta pensar que a China exerce hoje mais influência em diversos países da África do que toda a Europa somada; que o Brasil e Rússia mantém relações com o mundo todo, inclusive relações de poder mais intensas que as promovidas pelos EUA. Que a China já ultrapassou o Japão como pólo mais dinâmico da Ásia e disputa com os EUA a influência global. Por fim, que o Reino Unido tem uma atuação tão intensa na União Européia, e mesmo fora da Europa, e que as divergências entre Alemanha e França são, atualmente, maiores que os pontos de convergência no que diz respeito à geopolítica européia. Além disso tudo, os EUA ainda são e serão por vários anos a maior economia do planeta, e possuem o maior poder bélico do mundo por larguíssima margem sobre todos os demais países.
Enfim, o mundo é muito dinâmico, complexo e variado do que os livros didáticos fazem crer. Mas estas mentiras continuam sendo contadas, em pleno século XXI, apesar da existência abundante de material que desafia estes dogmas ultrapassados da geografia do século XX, que mistura um desenvolvimentismo atrasado com pseudoteorias pretensamente marxistas que fingem analisar o mundo sem nunca consultar as estatísticas existentes. Em outras oportunidades, eu trarei mais exemplos das mentiras que os geógrafos andam contando para a crianças nas escolas. Mais informações sobre o assunto podem ser consultadas no blog Tomatadas, do professor Luis Lopes Diniz Filho.

Comentários

Luis Diniz disse…
É uma ótima iniciativa denunciar as mentiras que os professores contam para os alunos. Eu vou mandar uma cópia desse texto para o grupo do Escola Sem Partido. Você poderia passar as referências bibliográficas do livro?
INTERCEPTOR disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
INTERCEPTOR disse…
"O critério de desenvolvimento adotado, por exemplo, é simplesmente a repetição das falácias repetidas a muitos anos. Não ocorre uma busca de uma classificação que considere algum indicador de referência como por exemplo o Índice de Desenvolvimento Humano, que colocaria no rol de países desenvolvidos os sulamericanos Chile e Argentina, porção sul e sudeste do Brasil além de vários países da América Central, como Costa Rica, Porto Rico e outros menores."

Agora imagine, Fernando, se os geógrafos utilizassem vários critérios para n-regionalizações, como não seria rica a possibilidade de aulas sob vários temas e sua dimensão espacial e de como esta pudesse influenciar o desenvolvimento dos próprios temas, causas e fatores de desenvolvimento em foco. P.ex., assim como é o caso do IDH poderíamos avaliar graus de segurança pública, jurídica, poluição em separado para demonstrar como estas variáveis evoluem, se correlacionam (ou não) etc. Mas, para tanto, a atualização deve ser uma busca constante e é muito mais fácil decorar um esquema preconcebido calcado nesta falaciosa teoria desenvolvimentista com acordes marxistas-leninistas que demonstrou acima. Dentre tantas críticas que se poderia fazer, como nos dias atuais, em plena época do agronegócio, da importância das commodities e da cadeia produtiva que se associam, se pode falar em países exportadores primários como se o alto desempenho disto não dependesse de uma indústria de insumos e infra-estrutura?
INTERCEPTOR disse…
Fernando, a propósito disto que relatou:

"O critério de desenvolvimento adotado, por exemplo, é simplesmente a repetição das falácias repetidas há muitos anos. Não ocorre uma busca de uma classificação que considere algum indicador de referência como por exemplo o Índice de Desenvolvimento Humano, que colocaria no rol de países desenvolvidos os sul-americanos Chile e Argentina, porção sul e sudeste do Brasil além de vários países da América Central, como Costa Rica, Porto Rico e outros menores."

Veja isto aqui:

Costa Rica lidera en la región el nuevo Índice de Progreso Social | AméricaEconomía http://www.americaeconomia.com/politica-sociedad/sociedad/costa-rica-lidera-en-la-region-el-nuevo-indice-de-progreso-social … via @americaeconomia

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