LIVRES DO BRASIL – O FALSO FEDERALISMO BRASILEIRO
Por Fernando Raphael Ferro
Em
teoria o Brasil é uma República Federativa. Quem já estudou um mínimo de
ciência política sabe que os Estados modernos dividem-se, grosso modo, em
unitários e federativos. No primeiro caso temos os exemplos de Argentina, Uruguai
e Paraguai. No segundo, Brasil, Estados Unidos e México.
As
monarquias também apresentavam divisões semelhantes. Reinos eram usualmente
extensões do domínio de uma única família. Eram unitários. Impérios aglutinavam
diversos reinos, estados, províncias e territórios sob seus domínios. A
Inglaterra, Portugal e Espanha foram desde muito cedo impérios multinacionais. Mas
sempre houve pequenos reinos e principados, que mantiveram sua independência,
como Mônaco e algumas coroas da Europa Central que caiam e eram restauradas ao
sabor do vento.
O
Brasil, desde sua primeira formação política, foi unido à força. E na primeira
independência, quando império é transferido de Portugal para cá, gente muito
diferente ficou sob a administração do mesmo governo. Os governos locais,
provinciais, pouca autonomia tiveram. Quando da independência frente Portugal,
que manteve a mesma família regente, as coisas não melhoraram. O Império do Brasil
era na prática um governo unitário, definido e administrado desde o Rio de
Janeiro. Mantínhamos um desejo de autonomia das partes, mas o corpo burocrático
sempre foi centralizador.
O
desenho de autonomia das províncias foi sucessivamente sufocado nas múltiplas
revoltas que sacudiram o império. Quando do golpe republicano, que instaurou a
República dos Estados Unidos do Brasil, obviamente de forma centralizada a
partir do Rio de Janeiro, as revoltas regionais foram múltiplas. Canudos,
Guerra do Contestado, e mais tarde a revolução Federalista em São Paulo estavam
lá para atestar. Mas o Estado Novo de Getúlio Vargas sepultou de vez qualquer
ilusão federalista de república velha, colocando o unitarismo na pauta outra
vez.
Com o
fim da II Guerra o Brasil retorna à normalidade democrática, o ditador é deposto,
e um ar de autonomia volta às províncias. No entanto, a ilusão não dura muito.
O modo de governar continua centralizador. E em 1964, com o golpe/revolução
militar, o centralismo é acentuado. Um “projeto” nacional é empurrado goela
abaixo de todos os brasileiros outra vez. A mudança do nome do país para
República Federativa deveria ter trazido alguma esperança de mudança, mas o
Estado Nacional manteve-se tão unitário quanto sempre fora.
Com a
redemocratização e, sobretudo, após 1988, tudo foi feito para que o país se
tornasse de fato federalista. Criou-se então a figura única do município como
ente federativo. Esta foi a pá de cal em
cima da esperança de federalismo no Brasil. Ao invés de descentralizar o
governo, a municipalização trouxe a atomização da política, transferindo
recursos para o governo federal que tornou-se o grande redistribuidor, o pai
zeloso de todos, minguando a força do Estados ao ponto de torna-los
virtualmente insignificantes.
Hoje os
prefeitos buscam diretamente ao governo federal para a solução de seus
problemas e todas as leis são moldadas de acordo com a vontade de Brasília. O
Brasil é, na prática, um Estado Unitário, apesar de sua enorme diversidade
étnica, cultural, econômica, natural e climática. Tudo neste país é unificado e
centralizado por Brasília e aos Estados cabe divergir apenas nos detalhes mais
insignificantes possíveis.
Apliquei
em meu blog o Símbolo do Brasil riscado ao meio com os dizeres Movimento Livres
do Brasil, porque o centralismo nacional, o unitarismo que nos prende, é o mal
maior deste país, que se tornou um gigante paquidérmico. Não se trata de fazer
do Sul meu país, ou do Sudeste, ou do Nordeste. Trata-se de dar a cada um dos
26 Estados da Federação sua merecida autonomia para definir sua vida, deixando
a União as três únicas funções que realmente lhe cabem: segurança nacional,
moeda, e relações exteriores.
Chega de
interferências de Brasília em políticas de saúde, políticas
educacionais, políticas de segurança pública, políticas de trânsito, políticas
ambientais. Que cada Estado tenha autonomia para definir seu próprio código
civil, penal, processual, ambiental, tributário. Que a federação seja feita por
uma união verdadeiramente solidária, em que cada Estado contribui com um
percentual ou uma quantia fixa de seu orçamento para bancar a União, e não mais
de modo abusivo, como é hoje.
A título de ilustração, o Paraná arrecada
aproximadamente R$ 90 bilhões de reais todos os anos, mas a receita tributária
que fica no Estado é inferior a R$ 50 bilhões. O restante vira transferências.
Aplicando R$ 90 bilhões anuais no Estado, o Paraná seria uma Suíça. Não o é.
Tampouco qualquer outra unidade da federação. A rapinagem não serve a ninguém.
Não permite que os mais pobres cresçam, nem que os mais ricos se desenvolvam.
Por isso, convoco a todos, de todos os
rincões do país, a aderiram ao projeto LIVRES DO BRASIL. Chega de projetos
nacionais. Pensemos cada um de nós em nossos problemas locais. Resolvamos
nossos pequenos problemas. Deixemos de lado o Brasil, e solucionemos aquilo que
somos capazes de fazer, aquilo que está ao nosso alcance. Chega de
megalomanias. Chega de Brasília. Liberdade ainda que Tardia!
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